quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Experiencia, quem a tem?

Já me escondi atrás das cortinas e deixei esquecidos os pés de fora,

Já fingi que tinha febre para não ir à escola e queimei-me a tentar aquecer o termómetro numa lâmpada,

Já cantei até a voz me faltar em frente ao espelho agarrada a uma escova a fingir de microfone,

Já fiz um balão com uma pastilha que se me colou à franja, já colei pastilhas debaixo da mesa por não saber onde as por,

Já fiz cócegas à minha filha só para que ela parasse de chorar, já lhe bati e arrependi-me logo de seguida,

Já quis ser cantora, bailarina, trapezista, e também já quis trabalhar na caixa dum supermercado,

Já roubei um gelado na mercearia do bairro, já menti e fui descoberta,

Já gozei com quem achei ser fraco e também já fui gozada por quem já admirei,

Já roubei um beijo, confundi sentimentos, magoei e fui magoada,

Já lambi o fundo da panela e queimei a língua, já bebi vários tragos de leite até perceber que estava estragado,

Já copiei em exames e fui apanhada, já deixei que copiassem por mim,

Já subi às escondidas ao telhado da casa da minha avó para tentar agarrar as estrelas, já fugi de casa para sempre e voltei logo a seguir,

Já caí no meio da rua, já chorei em publico e sozinha numa casa de banho por alguma coisa que me aconteceu,

Já fiz juramentos de amor eternos para descobrir tempos depois que nada dura para sempre,

Já me enganei e já julguei injustamente, já me castigaram sem razão mas também já tive castigos merecidos,

Já corri para não deixar alguém a chorar, já defendi um amigo sem razão só por ser amigo, já fiquei só no meio da multidão sentido falta de uma única pessoa,

Já mergulhei numa piscina e não quis sair mais até os lábios ficarem roxos e a pele dos dedos enrugada, já senti a boca dormente por ter bebido demais,

Já vi a cidade do céu e nem mesmo assim encontrei o meu lugar,

Já senti medo do escuro, já tremi de nervos, já quase morri de amor e renasci novamente para voltar a amar, já me apaixonei e pensei que fosse para sempre,

Já falei sozinha e ainda falo, já me ri de mim e ainda o faço, já andei descalça sob a relva e fiquei com os pés doridos, já corri para chegar em primeiro lugar,

Já senti medo de morrer, já gritei de felicidade, já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos,

Já aprendi que a vida é para ser saboreada em todos os momentos e que estes ficam para sempre em nós guardados, e sobretudo já sei que em cada instante, em cada lufada de ar, tudo se renova.

INjoy LIFE!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Why jump out of perfectly good airplanes??

Porque raio é que alguém, no seu perfeito juízo, salta dum avião que está a funcionar perfeitamente bem? Será loucura? Será coragem? Ou um pouco de ambos?

Para muitos saltar de um avião a 5kms da terra é considerado um acto de loucura….não posso deixar de me sentir uma verdadeira privilegiada, é que no passado o ‘louco’ era fruto da escolha dos deuses, era através dos loucos, que os deuses comunicavam com os homens.

Para outras pessoas, saltar de um avião é um acto de coragem: a capacidade de enfrentar um medo. A incerteza que o pára-quedas abra….. If it can’t kill you it aint a sport!

É difícil expor num post todo o sentimento à volta do salto. Vou (apenas) tentar…

A primeira vez a gente nunca se esquece… Foi no Algarve, há exactamente 2 anos.

Fui-me deitar tranquila, longe estava eu de imaginar que a partir desse dia um novo capitulo da minha vida ia começar. Achava que ia fazer uma loucura, que ia sentir a adrenalina e que iria ter uma história para contar, e era só isso. Been there, done that. Ponto final… Mas assim que cheguei à zona, e à medida que me preparava para o salto, percebi claramente que tinha encontrado a minha tribo. Nunca me senti tão encaixada e integrada como ali, rodeada de pessoas com as quais me identifiquei logo. É lógico que não sou excepção, estava nervosa, quer dizer, em boa verdade estava em pânico.

Durante os dez minutos que demora a subida ruidosa dentro do avião, todos equipados, sentados e encostados uns nos outros, em fila indiana, pela ordem de saída, eu (presa de movimentos e com as pernas dormentes) subia submersa em pensamentos incoerentes onde imagens, isentas de sentimentos, passavam rapidamente pela minha cabeça, imagens das minhas conquistas e vitorias intervaladas por imagens de cenas estranhas e sem qualquer sentido, onde confundia imagens da minha filha a sorrir para mim com imagens de pessoas estranhas, pessoas que estavam ali, sentadas ao meu lado, com o mesmo objectivo que eu: desafiar a vida.

Assim que o avião descola não há volta a dar. Em frente é que é o caminho. Desistir? Nem pensar… Ajoelhou? Vai ter de rezar! Aos poucos a imagem vertiginosa da terra começa a desaparecer, as árvores começam a parecer pequenos arbustos, os terrenos sinuosos parecem planos, e em menos de 10 minutos a pequena terra de onde descolámos transforma-se no mundo. A porta abre-se, o frio e o medo entram precipitadamente; os primeiros pára-quedistas começam a abandonar o avião, sinto uma espécie de angústia, doem-me os dentes, as pernas dormentes começam a tremer, sinto uma vontade de saltar muito grande, a espera pela minha vez transmite-me um sentido de dever, de missão, I can do it! Estou confiante, é um nervoso tranquilo, que me deixa em alerta: não há nada que me escape, estou atenta a tudo à minha volta, o som, o frio, a qualquer movimento, a qualquer respiração, tudo observo.

Chega a minha vez. Estou calma. Respiro fundo. Estou confiante. Não há hesitações. Há dois instrutores que vão saltar comigo, eles sorriem, fazem caretas um ao outro para aliviar a (minha) tensão. Estão literalmente à altura do salto que se propuseram fazer comigo. Sinto total segurança e firmeza da parte deles, sei que não me vão deixar à deriva, vão estar ali, ao meu lado, a ensinar-me a voar. Assim que saio do meu ‘porto seguro’ e enfrento a brisa de ar fresco que rapidamente se transforma em vento que me massaja o corpo e me sustem o voo o nervosismo desaparece e a adrenalina apodera-se de tal maneira que se torna impensável voltar a trás. Estou a voar.

Heaven, I’m in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak, and I seem to find the happiness I seek….

Até que a um determinado momento abro o pára-quedas, assim que a calote apanha ar e se começa a desenvolver, acaba a intensidade da queda livre e começa a paz do voo. Estou sozinha, pendurada numa asa pela primeira vez. Tenho que a levar para o chão. Tenho que a manobrar. Sinto-me bem. Eufórica. Não consigo deixar de sorrir. Tenho o mundo aos meus pés!

À medida que desço à terra a minha auto-estima sobe ao céu! Aterrei! Sou a maior! Quero repetir. Não…….. EU TENHO de repetir.

Hoje, quase 300 saltos depois, se ainda tenho medo? Sim tenho, mas é um medo diferente: já não vou para o desconhecido, já não há o pânico, mas o medo continua. O medo que vem com a experiencia. É um medo que aumenta com a noção que vamos tendo, à medida que vamos aprendendo, que ainda estamos longe de saber tudo. É um medo saudável. Que nos mantém conscientes e concentrados, e sobretudo que não nos deixa desleixar em relação à segurança.

Mas ser pára-quedista não é só saltar de aviões (que funcionam perfeitamente bem)… é muito mais do que isso.
Para mim é uma forma de estar na vida. É uma atitude, uma maneira de ser. Um pára-quedista é (no geral) uma pessoa ‘com pelo na venta’, com personalidade, com carisma. É admirado entre os seus. É uma pessoa que, apesar de não ter medo da morte, adora a vida, e tira proveito dela. É uma pessoa do mundo, com horizontes largos e visões ambiciosas. É solidário e solitário. Está bem com ele próprio e com o mundo que o rodeia, respeita o próximo. Gosta do seu íntimo, aprecia-se. Trata-se bem. Não tem medo de arriscar, de enfrentar desafios. Tem presença.

Um pára-quedista sente-se bem entre os seus pares, sente-se em casa, mesmo que esteja na Rússia. Não tem receio do julgamento alheio, e aceita outras formas de pensar, consegue entreter uma ideia, um pensamento diferente do seu, sem ter que o aceitar.

Mas não é tudo um mar de rosas… quem é mordido pelo bichinho do pára-quedismo dificilmente deixa o desporto. Assim, as pessoas próximas do pára-quedista, sofrem pela sua ausência, não entendem como é que lhes deixamos de dar atenção e começamos a viver obcecados com os saltos. Como deixamos de fazer férias em família para estar na zona. Tudo o resto deixa de ter importância, e as prioridades alteram-se de vez. Ou és pára-quedista ou então esquece. É do género: ‘a minha namorada fez-me um ultimato: ou ela ou o pára-quedismo…. vou sentir saudades dela’

Once a skydiver always a skydiver!
Take air!